domingo, 21 de março de 2010

Por Essas e Outras que eu Pedi Baixa - Parte I

Vou estrear hoje uma série de Posts referindo-se a coisas internas da Vida de Marujo, à qual eu fiz parte durante um ano na EAMSC em Floripa.
Recebi esse e-mail de um grande amigo Carioca, que não se identifica por motivos óbvios, e por que sente isso na pele.
Por esses absurdos e por outras coisas que eu pedi baixa ainda na Escola.
Segue o texto:
A MB não gosta do pessoal de navio 
      O pessoal de navio é sempre mais prejudicado em todos os aspectos. Sua avaliação, que é mais rigorosa que a do pessoal do “chão”, é sempre baixa em relação a este mesmo pessoal porque o militar de “bordo” está mais exposto, portanto mais suscetível a cometer falhas, que são extremamente humanas em qualquer atividade, menos na marinha. Mas, por algum motivo, as autoridades da Marinha cismam em ignorar este fato. Enquanto o cara do “chão” tem que ser muito ruim para ser conceito 4, o cara do navio tem que ser perfeito durante todo o semestre, o que não é garantia, para conseguir um conceito 5. Uma simples falha abaixa o seu conceito para 4 ou até mesmo 3.
     Sua escala se serviço pode cair até para 1 X 1 que as autoridades não estão nem aí. Enquanto nas diversas diretorias da Marinha, criadas apenas para dar emprego ao monte de almirantes que a marinha possui, a escala de serviço, quando há serviço, é de no mínimo 30 X 1 (há relatos de que algumas são 60 ou até 90 X 1). E se faltar alguém para completar a escala de serviço em algumas OMs de “chão” menos afortunadas, subordinada a essas diretorias (como o HNMD, CPRJ...), de onde a Marinha manda destacar pessoal para completar a escala de serviço?  Dos navios é claro, porque enquanto nas diretorias não se pode dar mais de um serviço por mês, nos navios pode-se dar até 15 serviços por mês.
     Sem contar o fato de por servir em um meio operativo, o pessoal do navio acaba ficando mais tempo longe de casa por causa das diversas comissões que um navio é obrigado a fazer. Mas isso não seria um problema se as autoridades que comandam os navios tivessem a consciência de solecar o pessoal quando o momento permitisse. Mas algumas autoridades acham que o pessoal não pode ter a vida facilitada, com a desculpa de queda de nível do adestramento, como se esses homens não fossem profissionais e não merecessem, no mínimo, o beneficio da dúvida. Acham que as praças só funcionam sob pressão e chicotada. E por isso escornam mais ainda os verdadeiros marinheiros (digo verdadeiros porque na minha humilde opinião, marinheiro é o homem do navio, do mar... Os homens de terra são apenas soldados). Como fazem isso? Criam serviços extras quando vêem que a escala esta “boa” (a escala do navio é no máximo 5 X 1); criam faxinas extra em que o pessoal é obrigado a ficar após o expediente para terminá-las... 
     Também há o fato de que se surgir um desembarque para uma boa OM, as autoridades do navio não querem indicar ninguém e colocam um “caminhão de areia” - dizem que o militar é imprescindível a bordo, que exerce função importante, etc. -, como se ninguém merecesse esse “prêmio”. Mas se o desembarque é para uma furada... 
     Quero deixar bem claro que não considero meu emprego o pior de todos, muito pelo contrário. Vou me aposentar bem novo em relação aos demais brasileiros; ganho um salário razoável, que me permite viver com dignidade, pelo menos por enquanto; conheço um monte de lugares e pessoas legais graças ao meu trabalho; tenho experiências de vida que muitos de meus amigos, que ganham até mais do que eu não têm... Mas o fato de gostar do meu trabalho, não me deixa cego a ponto de não enxergar as coisas erradas e não querer que ele melhore em alguns aspectos.

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